Wednesday, August 23, 2006

DOR DE MULHER É UMA SÓ. É UMA DOR COMPARTILHADA.

A situação da mulher mudou de fato? Estaremos sempre destinadas a
desenvolvermos tarefas árduas , termos dupla jornada, e ainda devemos fazer
uma cara de felicidade, de que está tudo muito bem para garantirmos a nossa
condição feminina?

Todos os dias na Fundação Maria Lúcia Jaqueira de Mattos recebo mulheres de
todos os níveis e condições sociais. O sofrimento é uma constante. Algumas
por terem sido vitimas de abuso sexual de estranhos, outras por terem sido
vitimas de violência sexual do pai, do irmão, do padrasto, do parente.

São mulheres de todas as idades. São crianças, adolescentes, mulheres
adultas das mais diversas faixas etárias. Algumas sofrem por ter sido
violentadas sem a menor possibilidade de denúncia mesmo diante das famílias
porque temem ser postas para fora de casa; outras dão queixa na delegacia
das mulheres e retiram por medo da vingança do agressor. Todas acabam
sofrendo de diversos distúrbios e transtornos mentais. Passam a ter nojo
delas mesmo, têm medo de tentar de novo, desconfiam dos homens, não
acreditam em mais nada. Buscam na terapia uma chance de reviver.

Em outros momentos chegam mulheres carregando filhos doentes nos braços e
raros são os homens que as acompanham. Elas carregam os filhos com a
esperança de que eles se recuperem e os profissionais da Fundação sabem que
nem todas as patologias têm cura nem a longo prazo. Mas elas insistem no
tratamento. Tomam ônibus, chegam ofegantes para o tratamento. Quantas
precisariam de transporte especial, de cadeiras de roda, de alimentação,
pois não podem trabalhar fora de casa porque não teriam quem cuidasse de
seus filhos.

E onde estão estes homens que violentam e abusam sexualmente, ameaçam suas
vitimas, transgridem todas as normas? E onde estão estes pais que não sabem
que um filho doente é fruto de duas pessoas? Onde está este homem
responsável do século XXI capaz de ser companheiro e de respeitar cada
mulher?

É esta a minha reflexão: enquanto houver uma mulher violentada, de qualquer
cor e raça, estaremos todas sendo violentadas. Onde houver uma mulher
sofrendo em razão da paternidade irresponsável, estaremos todas sofrendo.
Porque dor de mulher é uma só. É uma dor de parto, é uma dor de um útero
universal.

A Fundação Maria Lúcia Jaqueira de Mattos confia nas ações desenvolvidas
pelo Ministério Público, mas, ao mesmo tempo, roga pela agilidade dos
processos.

E, principalmente, que haja uma reeducação masculina, que haja uma nova
proposta comportamental que revolucione a sociedade no sentido de que não
basta manter uma elite feminina devidamente adequada a este tempo. Nós
mulheres somente teremos o que comemorar quando os avanços que alcançarmos
forem compartilhados com todas as outras.

Vera Mattos(Jornalista / Psicanalista)

Sunday, August 13, 2006

Pais e País!


Hoje,Dia dos Pais, ano 2006, quero falar das mães que realizam o duplo papel de pai e mãe. Sabemos que Salvador lidera nacionalmente com a quantidade de lares chefiados por mulheres. Isto significa que, por motivos diversos, do luto, da perda, do abandono, da violência, as mulheres estão cada vez mais sozinhas.Esta semana atendemos 50 crianças com déficit mental. Entre os acompanhantes, apenas 3 homens. Ao passar pela entrevista,estas mães demonstram com tristeza e desilusão o fato de terem que lutar sozinhas pela vida.Uma delas me revelou que quando o pai tomou conhecimento que o filho era doente foi embora! Muitas carregam seus filhos de 12 anos, dentro de ônibus. Carregar nos braços uma criança de 12 anos é fácil? Outra subiu e desceu ladeiras, chegou com a pressão arterial elevada, pois se encontra desempregada e desassistida. Eu me pergunto que país é este. E depois me pergunto sobre os pais(homens) biológicos. Estes pais refletem o País.Está tudo na Constituição. Saúde é dever do Estado!

Monday, July 24, 2006

DROGAS: O SENTIMENTO DOS USUÁRIOS


Ele chegou dizendo que era vitima do Satanás. Mostrou como na noite passada tinha usado a “neve” – cocaína pura. Reproduz a forma como utiliza. Disse que desde os 14 anos se iniciou no mundo das drogas. Cola, maconha,álcool. O rosto é sofrido apesar dos 21 anos. Tem dificuldade de se expressar. Não consegue me encarar, olhar nos olhos. Tem vergonha dele. Mas ao mesmo tempo, expressa poder. Diz que conhece de tudo. Entrou no mundo do crime, entrou no mundo das drogas, do sexo, já não sabe o que acontece com ele quando entra nas rodas de drogas. Refere-se mais uma vez a Satanás: ele é o culpado ! Mas me procurou porque quer renascer. Tem 21 anos e me pede para que o ajude a deixar este elenco de hábitos, esta mistura mortal de álcool e drogas. Em sua fala, há sentimento de culpa. O rosto envelhecido. Olha para os lados,pisca os olhos, se ajeita na cadeira, mostra que esta inquieto e quer que a entrevista se acabe. De novo repete: “quero deixar o mundo do crime”. Pergunto a que crime se refere. Aumenta a ansiedade. Ele transpira, passa a mão no rosto, desconversa. Que crime? Disfarça. Responde. O uso de drogas, de todas as drogas. Acredito. Digo que acredito. O que leva ele a sentir-se assim ? Disse que deseja os objetos das pessoas, que não pode ver algo que desperte sua atenção porque deseja para ele.Gostaria de ter tudo que os outros tem. Dinheiro, poder, carro, moto. Tem boa aparência e consegue estar vivendo agora com outros homens, provavelmente mais velho.
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Conta que gosta de uma menina mas que ela o rejeita. Por isto usa mais droga.E em que lugar usa? Compra com que dinheiro ? Me responde que usa com os amigos, dentro do carro. Cheiram a neve ali mesmo e depois já não tem noção do que acontece.
Mas, Satanás é o culpado. Ele quer sair desta vida. Ele engana a mãe. O pai evaporou. Ele não mora mais com a família, não fez o segundo grau. Está bem vestido, cabelo bem cortado, tatuagem. Olho e vejo que é bonito.
Mas está visivelmente perturbado, já não diz coisa com coisa. O raciocínio começa a falhar.
A memória também. Demonstra uma certa agressividade.Começa a achar que corre o risco de ser entregue a polícia. Pergunto se já foi traficante. Ele responde: “já cometi todos os crimes mas não trafiquei. Compro com o meu dinheiro a droga que uso” – diz ele. Pergunto se a neve é cara. Responde que sim, que é da melhor.Vejo que olha sem parar para a minha bolsa e para o meu celular. Já não presta atenção em mais nada. Está com os olhos fixos nos objetos. Não sei se tenho medo dele ou se tenho piedade dele. Não retiro os objetos do lugar. Sei que tenho chances de ser atacada. Mas não demonstro pavor. Aquele garoto de 21 anos esta angustiado. Pergunta o que está fazendo ali. Me disse que na véspera misturou todo o tipo de bebida. Fala de sua sonolência. Pergunto se quer ir embora. Ele pergunta o que farei por ele e com ele.
Pretendo encaminhá-lo para uma instituição mais adequada que a nossa. Mas, peço que procure a família e que a mãe dele venha conversar comigo. Consegui que ele partisse com alguma serenidade da entrevista. Mas eu perdi a serenidade. A semana passada outro jovem estava entregue ao crack, que a parte pior da cocaína, o refugo, caminho certeiro da morte. Estava magro, bem magro, sem sintonia. A mãe aflita me pedia o milagre. Trazer o filho de volta para a vida. Penso em renascimento, penso em passagem, penso na Páscoa, na celebração da vida. Penso nesses jovens. Todos seguiram o mesmo caminho. Álcool, cola,maconha, cocaína, crack, êxtase.
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O nosso Programa para Adolescentes Infratores- PAI , (o nome não é irônico –pode ser uma frágil perspectiva de substituição) não tem condição de atendera demanda.
A droga está em toda esquina, disseminada em toda a sociedade. Os jovens ricos usam por opção mas sofrem igualmente. Chegam a agredir a família pois é questão de vida e morte ter dinheiro para comprar. Roubam, ameaçam. Um me disse: “quero ser trancado em casa; não quero sair para comprar”. Pergunto sobre a crise de abstinência, se sabe como será. Pergunto a família se já testemunharam alguma crise de abstinência de drogas.
São sempre as mesmas colocações. Sempre uma mãe que chora, geralmente sempre um pai mais ausente. E tem gente que diz que a droga não vicia. Gente que já teve experiência e saiu ileso. Então, acredita que qualquer outra pessoa poderá repetir o feito de sair ileso. E haja estímulo. Alguns acreditam que é fase, que logo será superada, que não há razão para desespero. Experiências de adolescentes. A geração de 70 usou. A geração de 80 usou. Todos se safaram. Todos ?Com o advento da AIDS e o reconhecimento público do nível de disseminaçãodas drogas, o que antes era paz e amor, a mistura de sexo e drogas,tornou-se combinação mortal.
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As campanhas nunca mostraram de fato uma crise de abstinência. Nunca mostraram alguém estremecendo, revirando os olhos, amarrado, em desespero. As campanhas apresentando jovens fechando portas para a droga como seestivessem fechando portas para envolvimentos afetivos. As drogas são mais poderosas que os envolvimentos afetivos, do que a hierarquia familiar.
Então, refletir é muito bom. O que fazer se, nesse momento, próximo a nossa casa alguém está usando, está comprando ou vendendo ? Os sistemas de compra ultrapassam a capacidade estratégica de qualquer sistema de marketing
Você usa? Seu marido usa ? Seu filho ou filha usam ? Seus amigos usam ? Você já parou para pensar nisto ou prefere manter-se distante da questão ? As drogas são violentas da mesma forma que a sociedade é violenta e parceira do uso. O meu desejo é que ao abrir a questão em torno dos que estão próximos, mantendo-nos disponíveis ao diálogo, possamos ser mais visíveis uns aos outros. A postura de achar que o nosso melhor amigo não usa, que nosso
hipócrita.
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Estamos no século XXI. Não viva como se estivesse no século passado,fingindo que estamos sempre arrodeados de boas ovelhas. Apenas decifre sequem está do seu lado é usuário, traficante, ex-usuário, curioso oucontrário às drogas.
Retirar esta conversa da roda é empurrar muitos dos que vivemos para as rodas da neve, crack, maconha e álcool , entre tantas e tantas categorias. Pense nisto.
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Vera Mattos é psicanalista/Jornalista e presidente da Fundação Maria LúciaJaqueira de Mattos.E-mail : fundacaojaqueira@yahoo.com.br

Saturday, July 01, 2006

Atendimento na cidade baixa

A FUNDAÇÃO MARIA LUCIA JAQUEIRA DE MATTOS ABRE INSCRIÇÕES PARA PARA O O PROGRAMA DE ATENDIMENTO E ORIENTAÇÃO PSICOPEDAGÓGICOS;ORIENTAÇÃO PARA CRIANÇAS HIPERATIVAS E HIPOATIVAS.DESTA FEITA, 60 VAGAS DESTINADAS EXCLUSIVAMENTE AOS MORADORES DA CIDADE BAIXA E PROXIMIDADES.

NO PROGRAMA SERÃO ADOTADAS TÉCNICAS PARA O DESENVOLVIMENTO DA ATENÇÃO E DA MEMÓRIA. TAMBÉM SERÃO REALIZADAS ATIVIDADES ESPECIAIS PARA ELIMINAÇÃO DE DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM GERAL.

PRÉ-ADOLESCENTES E ADOLESCENTES TERÃO HORÁRIO ESPECIAL.
AS INSCRIÇÕES DEVERÃO SER FEITAS A PARTIR DO DIA 03 DE JULHO NO CENTRO MÉDICO DA GRAÇA , SALA 804.
O TRATAMENTO DAS CRIANÇAS SERÁ REALIZADO EM UNIDADE INSTALADA NA CIDADE BAIXA.

TELEFONES : 3331 3029 / 9924 0633

Thursday, June 22, 2006

CRIANÇA TEM QUE SOFRER ?

Esta é a pergunta que faço todos os dias. Pergunto a mim mesma, pergunto aos amigos, companheiros de luta, aos militantes de inúmeras causas. Criança tem que sofrer ? Claro que ninguém responde que sim, que criança deve sofrer por ser apenas o inicio da viagem do ser humano , por si só solitária , em sua eterna busca. Mas existem sofrimentos que me incomodam bastante pois que me sinto com a culpa do mundo, embora compreenda plenamente que o mundo é grande e afinal eu sou apenas uma partícula deste processo que envolve vida e morte. Tenho portanto todas as limitações e me destituo de arrogância para envolver a relação culpa e poder. De fato somos todos culpados. Ou seremos adultos inocentes e portanto pacificados frente as responsabilidades pessoais e coletivas. Cada qual que se encaixe e busque seu dilema. O meu mais imediato impulso é desejar entender porque os pacientes em déficit mental são tão discriminados.
Vejamos este caso: uma criança que apresenta TDAH – Transtorno Déficit Atenção Humana com hiperatividade e/ou desatenção exige extremamente da família. Geralmente, um dos pais abdica da vida profissional para cuidar do filho. E começa a peregrinação para chegar-se a um diagnostico e a um tratamento. Em outras ocasiões a família se desfaz , a família não suporta o peso, fica com a criança o mais corajoso, o que deixa prevalecer o amor. Mas em sociedade onde o capitalismo selvagem impera, somente amor não basta, é preciso dinheiro, muito dinheiro para dar conta de tantas exigências.
Como o tratamento deve ser plural, interdisciplinar, fica impossível para as famílias de baixa renda, e de classe média, se é que isso ainda existe, comprometer parte do tratamento. Na nossa Constituição esta previsto que Saúde é dever do Estado propiciar, garantir, assegurar. Também esta dito que Educação e Segurança são deveres do Estado. Cresci acreditando na utopia de ver uma sociedade igualitária. Cada vez estou vendo o outro extremo. E não participo disto à distancia não, vejo no batente diário. Falávamos de crianças e sofrimento. Volto a isto. Uma das crianças assistidas pela Fundação Maria Lúcia Jaqueira de Mattos não encontrou qualquer possibilidade de atendimento odontológico por ser portador de déficit mental. Não encontrou qualquer unidade hospitalar que o aceitasse. Em situação de extremo abandono odontológico pode-se inicialmente culpar a família ; em seguida, poderemos dizer que os profissionais que o viram poderiam ter feito um encaminhamento para uma unidade hospitalar capacitada antes que as conseqüências fossem maiores; verifique-se as condições do município que ele vive que nada oferece e faz parte deste paraíso chamado Bahia.
Quando chegou a Salvador, já com os dentes em estágio avançado de caries, com dores violentas causadas pela exposição das partes mais sensíveis, já não podia beber água nem comer. O resultado foi a desidratação, a desnutrição e a dor. Peregrinamos por aqui também. Ele agora esta internado, mas não para tratar os dentes e sim de uma infecção generalizada. Quando termino de escrever este cotidiano tenho dúvidas quanto as possibilidades de sobrevivência. Mas estou torcendo por um final feliz. Afinal, aqui no Brasil parece que estamos destinados a sermos torcedores de uma Pátria amada, idolatrada mas desrespeitada diariamente pelas ações de todos, diretamente ou indiretamente envolvidos nas questões que envolvem a sociedade. Chegamos em um momento em que as organizações não governamentais tem mais confiabilidade que qualquer organização publica. Que a boa vontade do cidadão e mais forte do que as exigências legais. O voluntariado deve prevalecer, somar para encontrar soluções, saídas, caminhos, e sobretudo não se deixar vencer pelo pessimismo de muito e do otimismo e riso cínico dos guardiães do capitalismo.
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Vera Mattos - Jornalista/Psicanalista. Presidente da Fundação Maria Lúcia Jaqueira de Mattos. Artigo publicado na Tribuna da Bahia. e-mail: fundacaojaqueira@yahoo.com.br

Monday, June 19, 2006

Perguntas e Respostas

Em breve teremos uma seção de perguntas e respostas onde o internauta vai poder interagir fazendo perguntas para a psicanalista Vera Mattos responder..

Quanto vale o sorriso de uma criança?

Quanto vale o sorriso de uma criança?

Sunday, June 18, 2006

DOAÇÕES PARA A FUNDAÇÃO

DOAÇÕES PARA A FUNDAÇÃO MARIA LÚCIA JAQUEIRA DE MATTOS DEVEM SER FEITAS NA CONTA00580370-3 0P 03 AG 1517 CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. DEPOSITE O QUE FOR POSSÍVEL, O QUE SEU BOLSO, BOM SENSO E CORAÇÃO PERMITIREM!

FUNDAÇÃO MARIA LUCIA JAQUEIRA DE MATTOS

A FUNDAÇÃO MARIA LUCIA JAQUEIRA DE MATTOS É INTEGRANTE DO ESTADO DE PAZ, ESTADO DE PAZ JORNALISTAS, FCCV - FÓRUM DE COMBATE AO CRIME E A VIOLÊNCIA,FÓRUM DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTEFÓRUM DE MULHERES DE SALVADORFÓRUM DE MULHERES DO MERCOSULPASTORAL DA SAÚDE – PARÓQUIA DA VITÓRIACONVÊNIO : SINTERP/BA – SINDICATO DOS RADIALISTAS E PUBLICITÁRIOS DA BAHIAPRESIDENTE: VERA MATTOS VICE-PRESIDENTE: JOSALTO ALVESDIRETORA DE EVENTOS: ANDRÉA ERMELINDIRETOR ADMINISTRATIVO: RAINÉRIO ARAÚJODIRETOR DE COMUNICAÇÃO: EWERTON MATOSDIRETORA DE PSICOLOGIA: TANIA GOMESDIRETORA DE FONOAUDIOLOGIA: VANESSA DE NARDIDIRETORA DE PROJETOS SOCIAIS: MICHELE PAIVADIRETOR DE ODONTOLOGIA: LUIZ JESUSCONSELHO: JEFFERSON BELTRÃO, JOSALTO ALVES, JOLIVALDO FREITAS, OLGA MARIALENKO, VERA MATTOS